Organizada por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman, com a participação de um grupo de colaboradores de reconhecida competência, esta Nova história do cinema brasileiro realiza um projeto necessário não apenas para os estudos da história do país, como também, em esfera mais específica, para a compreensão de nossa cinematografia. Trata-se de uma obra ambiciosa, gestada coletivamente, que perfaz uma densa envergadura cronológica e geográfica.
O presente volume divide-se em três partes. Na primeira delas, ""Os primórdios, o cinema mudo e início do cinema sonoro (1895-1935)"",oito artigos dão conta de flagrar o desenvolvimento de uma arte que parecia servir sob medida à nova sensibilidade cosmopolita da virada do século XIX para o século XX no Rio de Janeiro, a então capital da República, e em estados como Rio Grande do Sul,Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo ena região amazônica. Para além da rica massa de informações, é notável o rigor com que se pode usufruir aqui de uma série de reflexões a respeito do desenvolvimento da nova e acelerada cultura audiovisual cm sintonia com seu tempo.
Os quatro textos da segunda parte, ""Estúdios e independentes (1930-1954)"", tratam da produção carioca das décadas de 1930 a 1950 com filmes de gênero ou chanchadas e da criação cinematográfica paulista, concebida por companhias com aspirações de produção em estúdio, como a Vera Cruz, mas também à margem dela.
Na terceira e última parte, ""O INCE e o cinema documentário educativo (1937-1966)"", dois artigos recuperam a trajetória do Instituto Nacional de Cinema Educativo e a participação norte-americana na atuação da entidade. Examinar as produções do INCE constitui atitude fundamental para a pesquisa e o debate de questões como as relações entre o cinema e o Estado, a obra de Humberto Mauro e o documentário clássico brasileiro. Igualmente esclarecedora é a contribuição nas políticas de Estado da Guerra Fria.
Ambos os volumes de Nova história do cinema brasileiro estão atentos à evolução, no eixo temporal, do cinema feito no país, não negligenciando as práticas sociais envolvidas na exibição e na recepção do espectador. Outra preocupação é dar visibilidade àqueles protagonistas que sempre estiveram à frente ou atrás das câmeras, embora a história oficial insista em relegá-los à posição de coadjuvantes: as mulheres, os negros, os homossexuais e os indígenas.
As Edições Sesc São Paulo muito se orgulham de poder dar a conhecer ao público leitor essa instigante reunião de estudos, disposta a lançar luz sobre uma arte, a do filme, que em seus aspectos culturais, econômicos e sociais possui percurso especialmente significativo entre nós.